Vivi Bettoni
Esporte, um transformador de vidas!
Você já parou para pensar por que o esporte tem o poder de transformar as pessoas?
Não sou esportista mas adoro caminhar e correr. Antes de ter meu filho, quando queria relaxar porque havia tido um dia extremamente cansativo ou então, precisava refletir, buscava as caminhadas e corridas como mecanismo de ajuda. Eu sabia que a oxigenação fazia-me pensar melhor, reestruturar idéias ou ter novas idéias... mas nunca havia parado para entender que praticar algum tipo de esporte poderia desenvolver novas habilidades.
Em artigos anteriores, já mencionei que meu filho nasceu prematuro extremo, de 28 semanas e por consequência teve uma lesão cerebral na área do equilíbrio que ainda exige apoio de fisioterapia para melhorar sua confiança no andar.
Enzo quando iniciou-se no esporte para complementar a fisioterapia, fez-me perceber que os benefícios iam além do físico. Foi então que comecei a observação sobre a formação de novas habilidades que vinham junto à prática do esporte. Ele fez natação e agora faz taekwondo além das praticadas na escola. Enzo melhorou algumas habilidades que já mostrava ter e desenvolveu outras que por fim, foram essenciais para as recentes conquistas dele.
E você, já parou para se questionar o por quê do esporte ser tão indicado em projetos sociais? Ou então por que será que vem ampliando seu contexto com crianças e jovens com deficiência?
Ah, normalmente me responderiam assim: Vivi, o esporte disciplina as crianças socialmente marginalizadas ajudando na formação pessoal e algumas vezes dando-lhes uma oportunidade de profissão; e para as crianças e jovens com deficiência ajuda a melhorarem fisicamente, uma possibilidade de superar suas dificuldades.
Essas respostas são totalmente aceitas, mas o que muitas pessoas não sabem, ou fica ainda "encapsulada a idéia", é que novas habilidades são desenvolvidas, possibilitando novos comportamentos e posturas diante da vida. Habilidades estas ligadas ao planejamento pessoal antes não visto como importante, desenvolvimento da confiança e auto estima, comunicação adequada e eficiente, controle emocional, competitividade, espírito de equipe, agilidade nas decisões, enfim, habilidades extremamente importantes para a vida pessoal e profissional.
Como disse no começo, praticar esportes ajuda estruturar pensamentos, organizar idéias, ter novas idéias... a oxigenação faz com que a circulação sanguínea aconteça, reabastecendo as áreas cerebrais com muito vigor.
Vários estudos já vêm sendo realizados há anos, buscando essa relação do esporte e melhoria cognitiva e saúde. Segundo a maioria dos estudos, em particular um que gostei, da Revista Brasileira de Medicina e Esporte [1], diz que o desenvolvimento das funções cerebrais vão além da ginástica com práticas de leitura, memorização, jogos... Que a prática de atividades físicas estimula a produção de proteínas capazes de produzir novas células nervosas, além de evitar a destruição de neurônios já existentes que por consequência, ativa novas áreas cerebrais e proporciona novas conexões neurais. Essas novas conexões ajudam promover adaptações em estruturas cerebrais e na plasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro em refazer a função de uma área prejudicada (por lesões ou doenças) em uma outra área, como em casos de pessoas com paralisia cerebral, AVC (Acidente Vascular Cerebral) entre outras.
Maravilhoso isso!! Eu sou fascinada pela Neurociência...
O esporte de fato também disciplina, porque assim como muitas coisas que fazemos diariamente, há regrinhas nas quais é necessário segui-las para a boa realização da atividade; e a busca por seguir os passos adequados ressalta ainda o esforço e dedicação para ter as conquistas que se deseja. É a partir daí que as habilidades de planejamento pessoal, comunicação, liderança, controle emocional são desenvolvidas.
Para mostrar na prática como o esporte é importante para o desenvolvimento humano, convidei alguns atletas e profissionais da área para darem seu depoimento.
Vamos conhecê-los?

Esse é Luís Antônio Gonçales, Sabonim (mestre), faixa preta, 4o. Dan na modalidade Taekwondo. Sabonim descreve o Esporte como "contribui no desenvolvimento do ser humano em vários aspectos: liderança, perseverança, controle emocional, confiança dentre outros. O Taekwondo apesar de ser uma modalidade de luta individual, desde as primeiras aulas o aluno já percebe que há outros líderes na sala além do kyosanim ou sabonim (professor, mestre), os alunos mais graduados, pois dentro das artes marciais a hierarquia faz parte do cotidiano das aulas. E esses alunos mais graduados muitas vezes são os responsáveis pelos alunos mais novos nas aulas. A liderança e responsabilidade já são trabalhadas desde muito cedo independente do aluno. Em muitas vezes são colocados em prova o controle físico e emocional dos alunos para enfrentar os desafios em aula ou durante trocas de faixa."
Luís ainda ressalta que são trabalhadas da mesma forma as habilidades do Taekwondo para os alunos que possuem algum tipo de deficiência. Ele explica que, quando surge um aluno com deficiência, primeiramente procura entender quais são as dificuldades, para então poder inseri-lo ao máximo de atividades que todo o grupo pratica. Ele acredita que assim, esse aluno se sentirá cheio de objetivos, e com todas as características que o professor almejou em seu trabalho, a verdadeira inclusão.

As demais crianças, jovens e até mesmo os adultos, ao praticar o Taekwondo, buscam seguir as regras necessárias para desenvolvimento da modalidade, e isso os ajuda a melhorar e até desenvolver habilidades de disciplina, respeito, auto-confiança, autonomia, concentração entre outros.
Sabonin fecha seu contexto dizendo: "Hoje vejo que o Esporte, não somente o Taekwondo, é uma das melhores ferramentas de auxílio ao ser humano, pois tudo o que nele ensina fica de aprendizado por toda vida".
Eu como mãe do Enzo vejo que a cada desafio inserido durante as aulas de Taekwondo, o estimula a realizar a atividade mesmo da sua maneira, e a cada repetição, ele mesmo se coloca a prova para ser melhor que da vez anterior . Descrevo isso como "poder de superação". Assim como Enzo, outras crianças buscam vencer seus medos e dificuldades pessoais mesmo não tendo nenhuma deficiência ou dificuldade motora.
Luís é Sabonim na Academina Natália Falavigna, na qual Enzo aprende e pratica Taekwondo. Nada melhor que a própria Natália para nos dizer como considera o Esporte na vida das pessoas.

Natália Falavigna é um dos maiores nomes da arte marcial no país; paranaense, iniciou suas competições em 2000 quando já conquistou sua primeira medalha de ouro no Campeonato Mundial de Taekwondo Junior na Irlanda. Não parou por aí... e suas conquistas foram só aumentando, medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, ouro no Mundial em 2005 em Madrid, Bronze nas Olimpíadas de Pequim 2008, ouro em 2013 no Aberto da Áustria... dentre outros campeonatos. Hoje Natália atua como
Diretora técnica da CBTKD (Confederação Brasileira de Taekwondo) além de dedicar-se juntamente com Sabonim Luís, acima apresentado, à Academia Natália Falavigna em Londrina, com objetivo de proporcionar às crianças, jovens e adultos oportunidade de se desenvolverem no esporte e até se tornarem atletas profissionais.
Segundo Natália, "Esporte é uma representação da vida. Por ele se demonstra e ensina de maneira clara e pautada os valores da vida; ensina a trabalhar as dificuldades que surgem, permitindo que você aprenda a valorizar muito mais o processo do que o resultado final. Ela explica: " o que vale é como você passou, chegou até sua vitória, não somente a vitória em si". Natália ressalta ainda que o esporte vai além de seu benefício pessoal, que existe um benefício coletivo muito mais importante que prepara o ser humano para as situações diversas da vida, do dia-a-dia.
Pois é, Natália agora se unindo ao Sabonim para dar continuidade a sua história. Que tenhamos grandes atletas e formemos grandes pessoas!!
Do Taekwondo para Natação...

Essa é Cristiane Onishe, uma profissional de Natação; nessa foto ao lado ela está inclusive com meu filho Enzo.
Cris não atua somente na natação, se apaixonou também pelo Softball no qual participa de competições. Veja o que ela descreve:
" Venho de uma família de esportistas, meu avô paterno do atletismo e tios do baseball. Mesmo tendo essas influências, era uma criança tímida, acima do peso e sem consciência corpórea alguma. Aos 11 anos, o meu pai me apresentou o softball, me apaixonei pelo esporte, senti mais segura e me socializei mais, aprendi a entender o meu corpo e principalmente a trabalhar em equipe. Por conta disso, ao 17 anos escolhi ser Professora de Educação Física, onde atuo há 20 anos com natação infantil; sou muito grata e trabalho com muita satisfação. No meu ponto de vista, considero a natação como um dos esportes mais completos, pois através de atividades lúdicas conseguimos trabalhar força, equilíbrio psicológico e físico, consciência corporal, sociabilização, inclusão entre outros fatores que proporcionam o bem estar da criança."

Pois é, Cris começou a praticar esportes para trazer mais saúde para si mas no seu dia-a-dia percebeu que desenvolvia habilidades importantes para sua vida: entrosamento, controle emocional, competitividade, confiança, trabalho em equipe, algumas ressaltadas no seu depoimento e que hoje, consciente de tudo isso, busca também desenvolver em seus alunos.
Demais não é???
Vamos para o Judô?

Esse é Alexandre Segantin, ou Segantin como é bastante conhecido; faixa preta 4o. Dan na modalidade Judô. Para ele, o esporte em que atua é visto também como uma ferramenta educacional, onde os Senseis são considerados colaboradores do processo de ensino, parceiros dos pais na formação de seus filhos. Por ser um esporte de origem japonesa, buscam manter fortemente os princípios de disciplina, hierarquia e respeito entre as pessoas que ali praticam. Segantin também atua no processo de inclusão de pessoas com deficiência e refere-se a esse processo como um "mundo adaptado", um "mundo mágico". Ele lembra de um fato que o marcou muito quando trabalhou com uma criança que só possuia o dedão da mão e na prática do judô, para derrubar o adversário é necessário segurar no kimono para desenvolver a luta, e esta criança, com apenas um dedo se adaptou tão bem e bravamente lutou buscando vencer suas próprias dificuldades. Como Sensei, se encantou como o esporte pode trazer essa força para superar as limitações. Ainda em meio ao "mundo mágico", ele realça a felicidade sobre a satisfação de estar conseguindo ultrapassar as barreiras do dia-a-dia, como em outro caso, com uma criança autista que reagia com alegria e entusiasmo a cada conquista de movimento, uma criança que possuia dificuldades em relacionar-se e exprimir-se quanto aos sentimentos.
Segantin coloca um ditado utilizado entre os profissionais da modalidade que: "o judô é a modalidade individual mais coletiva que existe".
E além de desenvolver fisicamente o atleta quanto a lateralidade, coordenação motora, equilíbrio, força... desenvolve ainda habilidades como auto-confiança,auto-controle, auto-estima, respeito pela hierarquia, disciplina e instinto de defesa.
Maravilhoso tudo isso não é? Segantin também tem uma história bonita no esporte e que agora busca ensinar e estimular seus alunos às grandes conquistas através de seu exemplo.
E que tal tentarmos ver com outros olhos o que é o esporte....

Essa é Maria Angelita Oliveira Bonifácio, coordenadora do Instituto Pernas Preciosas. Conheci Angelita na Afel (Associação Famílias Especiais de Londrina) em meio aos projetos para inclusão da pessoa com deficiência.
Angelita diz, "Vejo o esporte como a oportunidade em incluir, em trazer novamente o brilho nos olhos de quem tinha perdido a vontade de viver. Vejo a transformação de uma vida que estava sem a esperança de continuar. O esporte tem esse dom, esse poder em renovar, em desafiar e possibilitar um novo horizonte. Inclusão, saúde, alegria, auto-conhecimento, e o principal, a vontade em querer cada vez mais se desafiar, mostrar para si mesmo que não importa qual seja sua deficiência ela não é uma barreira, ela esta ali somente para te lembrar o quanto você pode ir mais."
Interessante não é? Olha quantas habilidades são nesse caso, além de desenvolvidas, resgatadas? Auto-estima, confiança, entusiasmo, cooperativismo, independência...
Angelita disponibilizou um pequeno vídeo-depoimento de Márcio Gabriel Silva, um dos paratletas do Projeto de Basquete Inclusivo do Instituto Pernas Preciosas; como é visto o esporte para um paratleta.
Depois de ler e ver os depoimentos, a gente consegue perceber que mesmo que cada um tenha uma visão do esporte e mostre o que cada um tem de particularidades quanto as habilidades que se desenvolve, a maioria concorda em um quesito: "o esporte é adrenalina... é um meio para a superação não somente para as conquistas, classificação, medalhas dentro do esporte, mas superação de seus próprios medos e limitações pessoais, emocionais que um dia foram inseridos em diversas situações da vida...
O Esporte pode ser entendido como um mecanismo de "polimento e crescimento pessoal" PARA TODOS!
E você, qual esporte se identifica?
Agradeço especialmente aos grandes atletas e profissionais que participaram desse artigo, que, com muito carinho, cedeu um pouco de seu tempo para contribuir com o desenvolvimento pessoal das pessoas que já praticam ou querem praticar esportes.
[1] Merege Filho, C. A. A.; Alves, C. R. R.; Sepúlveda, C. A.; Costa, A. S.; Lancha Júnior, A. H.; Gualano, B. Influência do exercício físico na cognição: uma atualização sobre mecanismos fisiológicos. Revista Brasileira de Med. e Esporte, Vol 20, N.3, Maio-Junho 2014
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